7 fases da Inovação - Parte 2

Por Bruno Orlandi em 28 de Outubro de 2017

Esta é a segunda parte do post sobre Inovação. Clique aqui se você não viu a primeira parte.

4. Serendipidade

Vocẽ talvez nunca tenha ouvido falar essa palavra. A Serendipidade é aquele momento que você está fazendo uma tarefa diferente, pensando em algo diferente e de repente, como um estalo, vocẽ tem uma ideia. Isto não acontece “do nada”, na verdade seu cérebro passou por momentos caótico onde os neurônios estavam fazendo diversas conexões, favorecendo a colisão de ideias. Quando você não está concentrado em um problema, está praticando um hobby, uma caminhada, isto favorece que estes momentos ocorram. Outra forma de favorecer a Serendipidade é fazer uma pesquisa no Google por exemplo. Alimentar o seu cérebro com informações favorecerá o desenvolvimento das ideias. É por isso que os brainstormings precisam ser mais desorganizados, permitindo que as ideias colidam umas com as outras.

Um outro exemplo, muitas vezes não reconhecido é a Caixa de Sugestões. Você já foi a algum lugar e viu uma caixa de sugestões e imaginou que ninguém deve colocar um papel ali dentro. Acredite, esta caixa pode ser muito importante. A caixa de sugestões está favorecendo a coleta de ideias de qualquer pessoas. A ideia de um cliente pode lhe trazer a conexões de ideias na sua mente. Quem entendeu bem isso foi a Salesforce.com, a empresa possui um fórum de ideias, o Idea Exchange. Qualquer pessoa, seja um colaborador, seja um cliente, pode discutir ideias para melhorar os serviços e produtos da empresa, isso fez a empresa a sempre estar inovando. O Spotify também tem sua caixa de ideias, frequentemente eles estão avaliando e implementando as ideias solicitadas pela comunidade. A Netflix também tem uma página que você pode pedir filmes e séries que você quer ver na Netflix.

Acho que está claro que você deveria estar implementando uma caixa de sugestões na sua empresa, né? Pode ser simples como um formulário de feedback no seu site e até complexo como um fórum de discussões.

Há ainda mais um ponto importante se você está em uma empresa de tecnologia, assim como eu. Open Source! Os projetos de código aberto podem receber contribuições de qualquer pessoa, seja uma ideia ou com melhorias no código. Um software aberto e democrático tem muito mais chance de ser melhor do que um software desenvolvido de forma fechada dentro de uma empresa. Um exemplo disto é o sistema operacional Linux que é muito mais usado em servidores do que o Windows.

4. Erro

Quando pensamos na palavra errar a primeira sensação que nos vem é de algo negativo, pois somos ensinados assim desde criança. Se você errar muito em uma prova, você será reprovado, se errar muito no futebol não será um bom jogador, se errar muito no seu trabalho, será demitido. Essa é a visão de erro que temos, mas o erro não deveria ser sempre visto com negatividade. Erros podem ser fundamentais para a formação de novas ideias. Você já trabalhou em uma empresa que tem medo de errar? O maior bloqueio para empresas inovarem é tentar evitar ao máximo o erro. Colocando processos bem fechados e outras burocracias. Qualquer coisa que não siga os procedimentos padrões da empresa são erros, não conformidades. Um exemplo histórico do erro aconteceu com o radioamador e inventor Wilson Greatbatch. Greatbatch estava desenvolvendo um oscilador para registrar batimentos cardíacos e acidentalmente pegou um resistor errado em sua gaveta. Ao inseri-lo no circuito sua invenção passou a simular batimentos cardíacos ao invés de ouvi-los. Foi assim que ele inventou o marca-passo que até hoje ajuda milhares de pessoas a sobreviverem e terem sua vida prolongada.

O erro nem sempre é negativo, ele nos força a explorar novas soluções, novos caminhos. Em 1964, os cientistas Penzias e Wilson detectaram um ruído forte em sua antena projetada para detectar ondas de rádio do espaço. Mesmo eliminando todos os tipos de ruídos e fazendo a antena mais perfeita possível, o ruído persistia e os cientistas acreditavam que seus equipamentos estavam com defeito. Esse erro deu a eles o prêmio Nobel de física pela descoberta da radiação cósmica do Big Bang. Em 1928, Alexander Fleming viu que sua colônia de bactérias estava toda morta depois de outra substância ter caído acidentalmente sobre o experimento, isso levou a descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina.

O erro é o que permite que as Startups sejam mais inovadoras que as grandes empresas. Startups possuem a cultura do Fail Fast (Falhar rápido). Elas reconhecem que o erro é bem provável e sabem que quanto mais cedo errarem, mais fácil superam os erros e melhoram seus produtos. Startups não possuem uma burocracia, uma hierarquia e processos bem definidos que a impeçam de apostar em novas ideias para seus produtos. Mesmo que a ideia dê errado, com certeza terão um aprendizado sobre isso. Quanto maior a empresa, mais elas tentam ter todo o controle sobre sua cadeia, implantando processos e qualificações que buscam o perfeccionismo. Isso muitas vezes pode estar impedindo que novas ideias que sejam experimentadas dentro da empresa. Ideias que melhorem um processo interno, ideias de novos produtos ou serviços.

A Google é conhecida como uma empresa bastante inovadora. Na cultura da Google, o erro não é só permitido como também é estimulado. A Google entende que os erros geram novos aprendizados e podem até gerar novos produtos para a empresa. Sabemos de vários produtos da Google que não deram certo ou foram cancelados, isto está na cultura da empresa. O Vale do Silício é conhecido por ser um ambiente bastante inovador, o segredo é a cultura do erro que existe lá. Um investidor do vale do silício terá preferência em investir no empreendedor que já faliu duas startups em vez do empreendedor que está no seu primeiro negócio.

A Kodak chegou a ser responsável por 90% da produção de filmes usados nas câmeras fotográficas nos EUA. A Kodak foi a primeira empresa a criar a câmera digital, mas naquela época, a maioria de seus lucros vinha da vendas de produtos químicos utilizados nos filmes e eles tinham medo de investir em algo novo porque achavam que podia prejudicar o seu negócio tradicional. Em 2012 a Kodak declarou falência, ficou totalmente obsoleta pelas câmeras digitais que se expandiram rapidamente também pelos celulares. Naquele mesmo ano, outra empresa que também atuava na área da Fotografia foi comprada por um bilhão de dólares pelo Facebook. Essa empresa foi o Instagram. O Instagram soube ser inovador em um mercado que estava se expandindo rapidamente, já a Kodak preferiu não mudar seus negócios pois tinha medo de errar.

6. Exaptação

Mais uma palavra que você provavelmente não conhecia. Exaptação é quando você aplica um conceito maduro em outra área totalmente diferente. Por exemplo, em 1804 o tear mecânica funcionava a base de cartões perfurados que receita para confeccionar um tecido. O mesmo conceito de cartões perfurados foram usados até 1970 para programar os primeiros computadores digitais. Os tubos de vácuo foram originalmente inventados para amplificar sinais, mas foram essenciais representando os zeros e uns do primeiro computador eletrônico, o ENIAC. Eles também foram exaptados para os amplificadores de guitarra da Fender. O ambiente gráfico do computador como conhecemos hoje, área de trabalho, pastas, arquivos, documentos, lixeira… todos estes conceitos são exaptados do conceito de um escritório.

Voltemos às cidades e como elas favorecem a exaptação. Uma cidade, quanto maior ela é, maior a tendência dela possuir subculturas, pessoas com interesses e experiências em comum. Por exemplo, uma cidade de mil habitantes é pouco provável haver um grande grupo que se interesse por biotecnologia e genética, já em uma cidade com dez milhões, isso é bem mais provável. O que isso tem a ver? As informações e ideias podem vazar de uma subcultura para outra, favorecendo assim a exaptação. No final dos anos 90, Martin Ruef da Stanford Business School estudou a relação entre inovação e diversidade em redes sociais. Ele concluiu que empreendedores que se conectam com pessoas de diferentes áreas tendem a ser três vezes mais inovadoras do que os que se conectam apenas com pessoas da mesma área de atuação. Isso acontece pois eles têm a tendência de trazer conceitos de outras áreas para seu trabalho, assim como o caminho inverso.


Na terceira e última parte deste post explico sobre a última fase da inovação e uma conclusão resumindo todo o tema.

Continue para a parte 3…